O que é?
Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, ou seja, uma doença irreversível em que ocorre a morte progressiva de neurônios, comprometendo as funções do sistema nervoso. É o principal tipo de demência e uma das principais causas de morte em idosos.
Origem
O psiquiatra alemão Alois Alzheimer descreveu a doença pela primeira vez ao atender uma paciente entre 1901 e 1903. Após a morte da paciente, em 1906, Alzheimer estudou seu cérebro e prontuário, encontrando uma estranha substância acumulada no córtex: a proteína beta-amilóide.
O que ocorre no cérebro de um paciente com Alzheimer?
O cérebro acumula uma proteína chamada beta-amilóide que, por sua vez, forma placas. Essas placas destroem os neurônios, gerando perda de material cerebral e ocasionando os sintomas da doença. O líquor (líquido cefalorraquidiano), que circula ao redor do sistema nervoso central e deveria fazer a “limpeza” desse tipo de substância antes das placas se formarem, não dá conta dessa função. Com isso, a perda de tecido cerebral se agrava cada vez mais: o córtex cerebral encolhe (região mais externa do cérebro, responsável especialmente por funções cognitivas), o hipocampo também diminui de tamanho (região responsável pela memória) e os ventrículos (cavidades cerebrais preenchidas por líquor) aumentam de tamanho.
Como essas mudanças cerebrais começam a se mostrar no dia a dia do paciente?
No início, o paciente apresenta dificuldades na memória recente, confusão mental e mudanças bruscas de humor. É comum que familiares ou até profissionais pensem que se trata de sintomas comuns do envelhecimento ou mesmo de depressão ou “desânimo”. Com o avanço da doença, diferentes funções neuropsicológicas são afetadas, além do comportamento, dos movimentos (incluindo a marcha, capacidade de engolir e controle dos esfíncteres). Também ocorre a perda de traços de personalidade, o paciente se torna cada vez mais apático e cada vez se parece menos com a pessoa que costumava ser.
A partir de qual idade há o risco de Alzheimer?
É uma doença típica de idosos. De modo geral, quando se inicia antes dos 50 anos, se diz que o Alzheimer foi de início precoce, e após os 65, de início tardio. Um ponto muito importante para os colegas da área da saúde e mesmo famílias com idosos ficarem atentos: após os 60 anos, as chances de alguém desenvolver Alzheimer dobram a cada 5 anos.
Alzheimer tem cura?
Infelizmente não.
Mas se não tem cura, por que alguns pacientes com Alzheimer têm lapsos em que se recordam de algo ou de alguém?
São lapsos muito breves. Popularmente as pessoas pensam na memória como um grande arquivo no qual nossas lembranças e referências ficam armazenadas. No entanto, quando estudamos neurociências compreendemos que a memória não é esse grande depósito de lembranças, mas sim o processo neurológico de trazer à consciência fatos, pessoas, conceitos, etc. que não estão no presente momento/local. Assim, aquilo que se perde é a possibilidade que os neurônios/redes se comuniquem, devido à presença das placas de proteína beta-amilóide. Por vezes, num breve instante, esse processo funciona, gerando esse tipo de lapso.
Como podemos prevenir o Alzheimer?
A OMS (Organização Mundial da Saúde) aponta para as seguintes diretrizes como forma de diminuir as chances de vir a desenvolver Alzheimer:
– Estimulação cognitiva (manter-se mentalmente ativo: leitura, jogos, conviver com outras pessoas, estudo, escrita, atividades de lazer…)
– Não fumar
– Alimentação saudável
– Praticar atividades físicas regularmente
– Controle da pressão arterial
– Controle dos níveis de açúcar no sangue
– Dormir bem (com qualidade e em quantidade de horas)
O Alzheimer pode ser confundido com outras doenças? Como diferenciar?
Pode sim. Desde quadros mais simples, como depressão (que, em idosos, pode se mostrar com mudanças de humor, desânimo, apatia e dificuldades de memória/cognição) ou mesmo infecção urinária muito forte ou de repetição, algo frequente nessa faixa etária, assim como outras infecções muito intensas, podem trazer confusão mental. Com o envelhecimento, também pode ocorrer declínio cognitivo. Além disso, o Alzheimer é um tipo de demência, mas não a única. A solução é procurar um especialista para descartar possibilidades e fazer um bom diagnóstico diferencial.
Como é feito o diagnóstico?
1- Descartar outras possibilidades (como depressão / distúrbios de humor, declínio cognitivo leve, outras demências, outros quadros neurológicos, infecção urinária, déficits de nutrientes…)
2- Avaliação neuropsicológica
3- História clínica do paciente
O diagnóstico definitivo só ocorre por biópsia do tecido cerebral (após a morte).
Quais os sintomas e sinais do Alzheimer?
Podemos separar a doença em 3 estágios:
1- Estágio Inicial:
– Dificuldades com a memória recente
– Dificuldades com a fala e linguagem
– Desorientação temporal (não sabe a data, dia da semana, ano…)
– Perder-se em locais conhecidos
– Deixa de se interessar por atividades ou assuntos que gostava, fica inativo ou apático, parece desmotivado
– Reage com raiva ou agressividade incompatíveis com a situação
– Depressão, ansiedade, mudanças bruscas de humor
– Dificuldade para fazer escolhas
– Alterações visuais
– Distúrbios de sono
2- Estágio Intermediário/Moderado:
– Problemas de memória se agravam (por exemplo, não se lembra do nome de familiares ou amigos)
– Pode se perder até mesmo dentro de casa (ex.: não sabe onde está, tem dificuldade para chegar até a cozinha…)
– Não consegue viver sozinho, precisa de um familiar/cuidador de quem tende a depender cada vez mais
– Precisa de ajuda para atividades simples como trocar de roupa ou tomar banho
– Dificuldades de fala
– Dificuldades em coordenar movimentos (risco de queda)
– Comportamento característico (ex.: repetir muitas vezes a mesma pergunta ou comentário)
– Gritos
– Alucinações e delírios
3- Estágio Avançado/ Grave:
– Cada vez mais dependente e inativo
– Incontinência urinária e fecal
– Já não reconhece familiares e amigos
– Problemas para comer (não consegue engolir)
– Muita dificuldade de comunicação
– Dificuldades motoras se agravam (paciente passa a depender de cadeira de rodas ou fica no leito)
– Não compreende o que ocorre ao seu redor
Qual a expectativa de vida de um paciente com Alzheimer?
Em média, cerca de 10-12 anos, mas pode chegar a 20-25 anos.
Há algum tipo de tratamento?
Como não há cura, todo o tratamento é orientado no sentido de aliviar os sintomas ou desacelerar o avanço do Alzheimer, sempre com foco em melhorar a qualidade de vida do paciente e de seus familiares. Geralmente, o tratamento envolve uso de medicação, suplementação alimentar, atividade física (de acordo com as possibilidades) e estimulação cognitiva.
Sobre a saúde mental de familiares e cuidadores de pacientes com Alzheimer
Cuidar ou conviver com pacientes com Alzheimer traz uma grande sobrecarga mental, gerando estresse (o que, por sua vez, desencadeia problemas na saúde física e mental). Observa-se em familiares e cuidadores de pacientes com Alzheimer:
– Maior probabilidade de adoecer que a média da população
– Níveis mais altos de colesterol
– 5 vezes mais chances de desenvolver depressão ou ansiedade
– Deixam de lado os cuidados pessoais (má alimentação, sem tempo ou disposição para atividade física, pouco convívio social fora das rotinas do paciente, sem tempo para atividades de lazer, sono de má qualidade e/ou dormem menos que o necessário)
Frente a isso, é muito importante que os familiares/cuidadores tenham ajuda nos cuidados com o paciente, além de procurarem psicoterapia para aliviar ou prevenir o estresse, suas consequências e outros sintomas, além de procurar o médico regularmente.
Se inspira na dica: orientações práticas aos familiares
– Faça para o paciente uma pulseira ou colar com as seguintes informações em papel plastificado: seu nome e celular, nome do paciente e um aviso que ele sofre de problemas de memória. Isso facilitará caso a pessoa venha a se perder.
– Pelo mesmo motivo, avise familiares, amigos e vizinhos sobre a condição do familiar
– Conheça sobre a doença. Além de ajudar a compreender o que está havendo terá mais paciência com a pessoa. Muitas vezes é difícil e cansativo, mas o paciente não faz “de propósito”, e também sofre com a situação.
– Caso o paciente fume ou consuma álcool, é importante parar.
– Ter uma rotina muito bem estabelecida.
– Sempre avise o que vai acontecer (ex.: agora estamos indo ao médico; é hora do almoço, vamos comer; já é noite, vamos dormir)
– Incentive seu familiar a desempenhar tarefas para mantê-lo ativo (de acordo com as possibilidades dele, e sem esperar “perfeição”)
– A dificuldade em tomar decisões é muito comum, gera ansiedade extrema e crises emocionais. Por isso, sempre limite as opções de escolha. Por exemplo, no lugar de “o que você quer almoçar hoje?”, é melhor perguntar “você quer arroz com feijão ou macarronada?”
– Estimule a convivência familiar e social, dentro das possibilidades.
– Nunca faça perguntas ou comentários que possam desestabilizar o paciente ou gerar ansiedade (ex.: não pergunte coisas como “você sabe quem eu sou?”, “como assim você não se lembra do seu neto?!”)
– Adaptar a residência para evitar perigos e quedas, e para facilitar a rotina e os cuidados com o paciente (passagem de cadeira de rodas, banheiro adaptado para facilitar o banho, acabar com desníveis no chão, etc).
Infelizmente, até o momento não existe cura para o Alzheimer. Seu familiar não vai voltar ao que era antes. Então, faça tudo o que estiver ao seu alcance para tornar essa fase melhor para ambos. Tratamentos… mas também esteja com ele. Conversem. Vejam fotos antigas e contem histórias. Chorem e deem risada. Participem da vida um do outro, um dia de cada vez, aproveitem o tempo juntos.
CARUNCHIO, Beatriz Ferrara. Tudo Sobre: Alzheimer; Inspirati Soluções em Saúde Mental, 2022. Disponível em: <https://inspiratisaudemental.com/2022/04/14/tudo-sobre-alzheimer> Acesso em 01 de junho de 2022.