Depressão: cérebro e cognição

Tudo aquilo que fazemos, pensamos, percebemos e sentimos envolve reações e mudanças no nosso cérebro. Com os transtornos mentais, não é diferente.

Quais regiões cerebrais são mais afetadas pela depressão?

1- Sistema Límbico: é um conjunto de estruturas cerebrais ligadas aos nossos afetos, emoções, motivação e comportamentos de origem emocional. Dentre essas estruturas, podemos destacar na depressão o hipotálamo, responsável pela sensação de fome, sono, raiva, desejo sexual… Por isso, todos esses aspectos do nosso organismo e da vida também podem sofrer influências de uma crise depressiva.

2- Córtex pré-frontal: é a camada mais exterior do cérebro (‘córtex’ significa casca), na parte da frente da cabeça. Essa região é responsável pela cognição e por funções mais refinadas, como planejamento, pensamento crítico, etc.

A química cerebral também é alterada na depressão?

Sim. O cérebro e o sistema nervosoprecisam de certas substâncias para manter suas atividades, os chamados neurotransmissores. Eles são produzidos no próprio organismo e são fundamentais para manter tudo em equilíbrio. Quando alterados, seja por excesso ou falta de algum neurotransmissor, o paciente irá apresentar mudanças emocionais, cognitivas, fisiológicas e até de comportamento. No caso da depressão, dois deles são os principais a entrarem em desequilíbrio:

1- Serotonina: ligada ao bem-estar, equilíbrio do humor, sensação de saciedade, cognição, frequência cardíaca, desejo sexual, temperatura do corpo…

2- Noradrenalina: é a antagonista da adrenalina (aquela que nos coloca à postos para lutar ou fugir de perigos). A noradrenalina traz equilíbrio do humor e do sono, também é relacionada à alimentação e a funções neuropsicológicas como a memória.

Com essas alterações nas áreas cerebrais e na neuroquímica, a depressão vai além das emoções, afetando nosso comportamento e cognição.

Cog… que?!

Cognição é o nome que damos às funções neuropsicológicas ligadas ao processo de conhecimento, aprendizagem e intelectualidade. Por exemplo, o pensamento, a linguagem, raciocínio numérico-matemático…

Principais dificuldades cognitivas em pacientes com depressão:
  • Lentidão ao desempenhar as tarefas
  • Pensamento lento
  • Pensamentos repetitivos ou recorrentes
  • Dificuldades de atenção e concentração
  • Dificuldades de memoria
  • Passar a ter preocupações exageragas, que não eram comuns para o paciente antes da depressão
Como isso acontece?

Quando sentimos alguma emoção ou sensação mais intensa, a prioridade do cérebro é processar esses afetos e sensações para, ao “dar conta” deles, recuperar o equilíbrio do organismo.

E enquanto o cérebro processa isso, o que acontece com os estímulos cognitivos? Simples: são processados mais devagar ou deixados de lado, para um momento mais oportuno. Os estímulos cognitivos em questão podem ser diversos, como a aula ou o trabalho, mas também se lembrar de uma consulta, prestar atenção numa conversa ou num filme, lembrar de desligar o gás ou trancar a porta de casa…

A princípio, qualquer paciente depressivo pode ter dificuldades cognitivas, embora isso seja mais frequente em casos mais graves de depressão.

Lembrando sempre…

Quando a depressão é tratada, os sintomas cognitivos também tendem a melhorar.

O paciente não tem consciência dessa dinâmica cerebral. Ele pode perceber essas dificuldades, mas é importante deixar claro que ele não faz de propósito, ou seja, não é uma escolha deixar a aula de lado ou faltar a um compromisso por não ter se lembrado…

Atenção especial aos pacientes idosos, pois quadros depressivos com sintomas cognitivos podem ser facilmente confundidos com quadros demenciais, e vice-versa.

Como vimos, a depressão afeta o organismo como um todo. E junto com a saúde física e mental, afeta os relacionamentos, a família, o trabalho e os estudos, os sonhos para o futuro… a vida inteira. Por isso, não espere para prcurar ajuda profissional. As coisas não precisam ser desse jeito.


Livro da imagem: Gray’s – Anatomia clínica para estudantes, Richard L. Drake; A. Wayne Vogl; Adam W.M. Mitchell. Elsevier, 3ª ed.

Imagem: Beatriz Ferrara Carunchio, 2022.


Quer citar este texto no seu trabalho? Legal! Pode citar assim:

CARUNCHIO, Beatriz Ferrara. Depressão: cérebro e cognição; Inspirati Soluções em Saúde Mental, 2022. Disponível em: <https://inspiratisaudemental.com/2022/09/20/depressao-cerebro-e-cognicao/> Acesso em 24 de setembro de 2022.

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