Diferente daquilo que muitos imaginam, os sonhos não são apenas produto do cérebro funcionando durante o sono. Eles têm função prática, em termos de neurociência.
Primeiro, é importante saber que o sono não é regular, tem diferentes fases com características próprias. Podemos sonhar em qualquer fase do sono, mas a maioria dos sonhos e aqueles mais vívidos e detalhados acontecem durante uma fase do sono chamada sono REM, marcada por movimentos rápidos dos olhos e por um padrão de funcionamento cerebral diferente daquele que ocorre quando estamos acordados e mesmo em outras fases do ciclo de sono.
Na maior parte do tempo, nosso cérebro funciona por estimulação simpática, uma maneira de funcionar do sistema nervoso relacionada a luta e fuga. Isso quer dizer que, na maior parte do tempo, vivemos “em guerra” com os estímulos e situações da vida, enfrentando aquilo que podemos enfrentar e fugindo (evitando) daquilo que não podemos enfrentar ou que não sabemos lidar. Esta é uma característica evolutiva, ou seja, foi muito importante para a sobrevivência do ser humano primitivo, luta ou fuga garantia a sobrevivência frente a perigos, predadores, inimigos, desastres naturais…
Quando dormimos e entramos no sono REM, isso muda! O cérebro passa a funcionar por estimulação parassimpática, relacionada a descanso e processamento, assim, áreas cerebrais ligadas às emoções estão menos ativas do que quando estamos despertos. Com isso, a maneira como esse cérebro perceberia as situações da vida (e as soluções que poderia dar a elas) muda por completo. Durante o sono REM, a forma como o cérebro funciona nos permite processar fatos, sentimentos, lembranças… com menos intensidade emocional do que quando acordados.
Isso significa que o estresse, a ansiedade e os sentimentos desconfortáveis ligados a esses conteúdos diminuem, assim como outras emoções muito intensas. Assim, o cérebro pode processar melhor tudo isso e, de quebra, aprendemos a lidar com as questões literais ou simbólicas do sonho (seja situações de risco, relacionamentos, medos, dificuldades…) de um jeito mais assertivo, mesmo quando os sonhos são desagradáveis. Afinal, o que você faria se aquilo que te angustia não te deixasse mais com medo, com ansiedade, irritado…?
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CARUNCHIO, Beatriz Ferrara. Qual a função dos sonhos?; Inspirati Soluções em Saúde Mental, 2023. Disponível em: <https://inspiratisaudemental.com/2023/06/05/qual-a-funcao-dos-sonhos/> Acesso em 05 de junho de 2023.