Guia completo sobre abafadores de ruídos

Sempre que a gente fala desse tema, surgem comentários de curiosidade e polêmica. Abafadores auditivos? O que isso tem a ver com saúde mental, afinal de contas? Vamos contar tudinho neste post!

Na neuropsicologia e na área da saúde mental como um todo, muitas vezes lidamos com pacientes com síndromes, transtornos ou condições que tornam esses pacientes sujeitos a situações de sobrecarga ou de dificuldade de atenção frente a muitos estímulos. Em casos assim, mais do que evitar certas situações, o melhor é ser inclusivo e pensar em recursos para que esses pacientes também possam frequentar os diversos ambientes e atividades sem ficarem sobrecarregados, desregulados ou com crise.

Quando o uso de abafadores é recomendado?

Algumas pessoas têm transtorno de processamento sensorial (TPS), uma condição frequente em pessoas autistas, que traz grande sensibilidade a sons e dificuldade em integrar suas percepções sensoriais num todo harmonioso. Isso faz com que a realidade pareça uma sinfonia fora de tempo, um amontoado de ruídos e estímulos que, ao não serem processados pelo cérebro no tempo certo, causam sobrecarga: cansaço, irritação, sono, dores de cabeça, sensação da consciência “nublada”/distante… Mesmo quando os estímulos param, parece que eles ainda continuam dentro de você.

Outras pessoas têm excesso de sensibilidade a sons, seja aqueles mais altos ou constantes, seja nos casos de misofonia – uma condição em que, em certos casos, até pequenos ruídos como o som de mastigar, torneira pingando, digitação, causam desconforto extremo, irritação e até dor ou crises de ansiedade.

Alguns, ainda, têm dificuldade em selecionar dentre tudo aquilo que percebemos o tempo inteiro, quais os estímulos que merecem atenção e quais simplesmente ignorar, algo frequente em pessoas com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).
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Ah! Pessoas que precisam se concentrar MUITO, como estudantes e concurseiros, além de quem trabalha em home office, também podem se beneficiar do uso de abafadores durante suas atividades.

Em quais ocasiões usar?

Depende do quadro clínico da pessoa e do dia a dia de cada um. Talvez pessoas autistas e/ou com dificuldades de processamento sensorial queiram usar em situações de sobrecarga (supermercado, restaurantes, bares, lugares cheios, barulhentos…) enquanto aqueles com TDAH ou com grande necessidade de concentração usem durante os estudos, lição de casa, trabalho focado.

Uma dica especial para pessoas autistas (e todos que sofrem com sobrecarga sensorial) é usar os abafadores por um tempinho após o fim do barulho, após um dia mais cheio… Isso evita aquela sensação incômoda, sabe quando os estímulos já se foram, mas parece que ainda estão ressoando dentro da gente? Costuma ajudar muito.

Mas usar abafadores não exclui a pessoa?

Não. O abafador ideal tem que reduzir sons altos, mas sem impedir a pessoa de ouvir quem está próximo, facilitando o uso fora de casa, ou se for necessário algum tipo de interação. Desse jeito, é possível até mesmo usar na escola ou no trabalho, ajudando a pessoa deixar de lado ruídos e aquele som de conversa paralela, porém ouvindo a professora ou quem falar diretamente com a pessoa.

Se inspira na dica: como escolher um bom “fone” abafador?
  • Atenção a quantos decibéis o modelo abafa. Oriento meus pacientes para escolher cerca de 20-25db. Não isola a pessoa do ambiente, é possível ouvir quem está pertinho, mas sem se sobrecarregar com barulho de obra, de trânsito, do supermercado, música alta…
  • Preste atenção ao tamanho. Modelos adultos podem ficar grandes na sua criança, não cumprindo a função. Já para adolescentes e adultos, modelos infantis podem não servir. Sempre sugiro aos meus pacientes optarem por modelos de alça ajustável. Além de durar mais tempo (no caso das crianças), garante o conforto, fica certinho do seu tamanho
  • Em caso de sensibilidade tátil, escolha modelos com a alça acolchoada
  • Escolha cores chamativas, em especial se for utilizar fora de casa
  • Protetores auriculares (o famoso “tampão”) pode ser usado junto dos abafadores em situações extremas
Essa sou eu com os meus abafadores! Escolhe um beeeem colorido! Vou te contar logo abaixo o motivo.
Alguns pontos sobre segurança:
  • Se a ideia for usar fora de casa, dê preferência a cores bem chamativas, como já dissemos. Isso é importante para segurança, em especial se você sai sozinho de abafadores. É importante, por exemplo, que um motorista veja que você está “de fones” e provavelmente não ouvirá um aviso ou buzina…
  • Saiu sozinho de abafador? Atenção redobrada, combinado?
  • Também por segurança, NUCA saia apenas de “tampões”.

Abafadores são recursos simples e que podem melhorar muito a qualidade de vida de pessoas autistas, TDAH e até mesmo de quem precisa focar total nos estudos ou no home office. Se for o caso por aí, vale a pena experimentar! Eu não abandono os meus.


Quer citar este texto no seu trabalho? Legal. Pode citar assim:

CARUNCHIO, Beatriz Ferrara. Guia completo sobre abafadores de ruídos; Inspirati Soluções em Saúde Mental, 2022. Disponível em: <https://inspiratisaudemental.com/2022/05/13/guia-completo-so…adores-de-ruidos> Acesso em 01 de junho de 2022.

2 comentários em “Guia completo sobre abafadores de ruídos”

  1. Pingback: Tudo Sobre: Transtorno do Espectro Autista (TEA)

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