Talvez pareça estranho, mas é fato: o intestino é um órgão fundamental para a nossa saúde mental, cognição e equilíbrio emocional. Muitos estudos vêm sendo realizados sobre o eixo cérebro-intestino e as relações entre o sistema gastrointestinal e o sistema nervoso central. Vamos conversar um pouquinho sobre alguns pontos interessantes dessa curiosa relação:
O intestino também “digere” emoções
E isso não é novidade nenhuma! Afinal, quem nunca teve aquela dor de barriga antes de uma prova ou de algo importante? Isso acontece porque não somos mente e corpo, somos um todo super complexo. Por isso, um sistema do nosso organismo sempre irá interferir em outros e sofrer infuências deles também.
No caso do eixo cérebro-intestino, os principais elos que unem esses órgãos são os vasos sanguíneos, o sistema neuroendócrino, o sistema imune e o nervo vago (que conecta o cérebro aos órgãos do corpo).
95% da serotonina é produzida no intestino
Muitas pessoas ficam surpresas com esta informação. A serotonina é um neurotransmissor, uma substância produzida pelo nosso organismo e que tem papel fundamental nas emoções e no equilíbrio do humor – mas também tem outros papéis: atua na cognição, na sensação de saciedade, na motricidade e nos movimentos, na manutenção da temperatura do corpo, na frequência cardíaca e no desejo sexual, por exemplo. Pacientes com depressão e transtornos de ansiedade podem ter desequilíbrio nos níveis de serotonina. Por isso, manter o intestino saudável é fundamental para que o organismo consiga captar essa serotonina produzida lá e levá-la até o cérebro.
Microbiota: sem ela, o cérebro não se desenvolve
A microbiota, também chamada de flora intestinal, é o conjunto de microorganismos que vivem no nosso intestino. Sem pânico, tá? Eles nos ajudam! São fundamentais para o bom funcionamento do corpo, ajudam no metabolismo e na digestão.
Sem microbiota adequada, o cérebro pode ter problemas em seu desenvolvimento, tanto na estrutura dos tecidos, quanto nos níveis de neurotransmissores.
A microbiota é algo individual, ou seja, a de cada pessoa é única – tipo uma impressão digital intestinal!
Se a microbiota está desequilibrada, os níveis de estresse e de ansiedade podem aumentar. O estresse crônico coloca o cérebro em estado inflamatório e é muito mais perigoso para a saúde física e mental do que as pessoas imaginam.
Em idosos, a microbiota tende a ser menos variada e menor. Isso é ruim, e pode trazer alterações psicológicas e neuropsicológicas, por exemplo, no humor, no estresse, nas funções cognitivas…
Fatores simples como alimentação saudável e prática de atividade física podem melhorar a variedade e a atuação da microbiota. E isso irá trazer ótimos resultados no equilíbrio emocional, na redução do estresse e ansiedade, e ainda melhora as funções cognitivas.
O ambiente cultural em que se vive também interfere na microbiota! Curioso, né? A microbiota muda conforme o estilo de vida, tipo de alimentação, exposição ao sol, qualidade da água e do ar, prática de atividade física, tipo de ambiente… Ah, e essa parte não é genética, é puramente sobre o estilo de vida.
Probióticos? Psicobióticos?
Lembra dos lactobacilos vivos que fazem bem para a saúde? É apenas um exemplo dos probióticos, microorganismos vivos que ajudam a melhorar a quantidade e qualidade da microbiota. Para isso, é importante que esses microorganismos sejam resistentes ao processo de digestão, aos ácidos do estômago: eles precisam chegar vivos ao intestino para fazer todo o trabalho!
Probióticos podem ajudar no controle da ansiedade e, em pacientes depressivos, diminuem as dores e processos de somatização.
Chamamos de psicobióticos os probióticos que trazem microorganismos especialistas em melhorar a ligação cérebro-intestino.
Disbiose, inflamação e problemas de saúde mental: uma questão sistêmica
Disbiose intestinal é um desequilíbrio da microbiota – quando os microorganismos que fazem mal estão presentes em maior quantidade que aqueles que fazem bem.
É uma situação que favorece inflamações. Com o desequilíbrio, o intestino também tende a ficar mais poroso, fazendo com que toxinas e inflamação cheguem ao sistema nervoso central.
Com isso, podem surgir desequilíbrios hormonais e metabólicos, além de quadros neuropsicológicos – o estado inflamatório piora a qualidade e a quantidade de sinapses.
Alguns sinais de disbiose:
- Fadiga
- Humor depressivo
- Ansiedade – veja o artigo com 30 sinais e sintomas de ansiedade
- Mudanças de humor
- Lentidão cognitiva
- Estresse
- Desinteresse (inclusive por atividades e assuntos que gosta)
- Sintomas gastrointestinais: prisão de ventre, aumento dos gases, azia, dores abdominais, diarreia, distensão abdominal
- Dores de cabeça
- Queda de cabelo
- Unhar fracas, quebram com facilidade
- Candidíase de repetição
- Torna a pessoa mais propensa a desenvolver alergias (incluindo alergia a lactose e outras alergias alimentares) e doenças autoimunes
Se inspira na dica: como cuidar bem da microbiota
- Reduzir gordura animal
- Alimentos integrais
- Frutas e vegetais, em especial as frutas vermelhas
- Iogurte e leite fermentado
- Dieta mediterrânea (rica em “gorduras boas”, como azeite de oliva extravirgem, peixes, castanhas…)
- Evite frituras
- Evite bebidas alcoolicas
- Evite excesso de açúcar e de alimentos refinados
- Beba água! Estar hidratado ajuda a evitar a formação de placas nas paredes do intestino, permitindo absorver nutrientes, serotonina e outras substâncias – entre muitos outros benefícios
- Atividade física
- Fique atento aos níveis de estresse e a sintomas depressivos, especialmente se não aconteceu nada diferente no seu dia a dia para você se sentir assim
Quer citar este texto no seu trabalho? Legal! Pode citar assim:
CARUNCHIO, Beatriz Ferrara. Eixo cérebro-intestino: o intestino faz muito mais pela saúde mental do que você imagina; Inspirati Soluções em Saúde Mental, 2022. Disponível em: <https://inspiratisaudemental.com/2022/05/31/eixo-cerebro-intestino> Acesso em 01 de junho de 2022.
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