Tudo Sobre: TDAH

Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) foi o tema escolhido na enquete do Instagram para este Tudo Sobre. Vem com a gente, vamos nos aprofundar nisso com base nas perguntas que o pessoal do Insta enviou na caixinha de pitacos!

Para começar: o que é atenção?

A atenção é uma função neuropsicológica. Podemos defini-la como a consciência direcionada para um foco, a concentração da atividade mental direcionada a algo.

Parece simples, mas quando prestamos atenção em algo, isso envolve perceber diferentes tipos de estímulos, selecionar o foco, filtrando, ou seja, deixando de lado estímulos sem relação com a tarefa (os chamados distratores). Ex.: ao conversar com um amigo em um café, nos deparamos com uma infinidade de estímulos diferentes, como a fala do amigo, sons do ambiente, estímulos visuais, pessoas ao redor, aromas, o sabor do café e até mesmo os nossos próprios pensamentos e sentimentos. Estar focado na tarefa (a conversa) envolve diminuir a atenção que damos a todos esses outros estímulos.

Além disso, existem diferentes tipos de atenção. Não se trata de saber o “seu” tipo, todos nós temos todos eles e os usamos com mais ou com menos facilidade, conforme as tarefas e os estímulos que chegam até nós. Vamos a eles:

  • Atenção sustentada: capacidade de manter o foco em tarefas mais longas ou repetitivas, inibindo. Ex.: ler este artigo até o final
  • Atenção concentrada: capacidade de se concentrar numa atividade ignorando todos os demais estímulos – visuais, auditivos, táteis… Ex.: se concentrar na leitura deste artigo, mesmo que seu sapato esteja desconfortável
  • Atenção seletiva: é a concentração das diferentes funções neuropsicológicas direcionadas para uma só atividade, a capacidade de manter o foco no estímulo/tarefa, mesmo quando outros estímulos surgem. Ex.: ler este artigo até o final numa sala compessoas conversando
  • Atenção alternada: alternar a atenção entre tarefas diferentes, porém sem perder o foco. Ex.: ler este artigo, atender a uma ligação e retomar a leitura sem “se perder”
  • Atenção dividida: capacidade de manter a atenção em duas tarefas simultâneas, por exemplo, ler este artigo enquanto escuta música – mas, é importante destacar: o que acontece na realidade é uma rápida alternância entre tarefas, dando a impressão de ter dois focos simultâneos
O que é o TDAH?

O TDAH é um transtorno global do desenvolvimento, ou seja, é um transtorno que se inicia na infância e cujas características tendem a acompanhar o paciente ao longo da vida, mostrando-se em diferentes setores do dia a dia. Embora algumas características do TDAH possam entrar em remissão (“melhorar”) conforme a criança cresce e o sistema nervoso amadurece, é comum que o TDAH persista no decorrer da vida adulta.

A principal característica do TDAH é uma dificuldade intensa no manejo da atenção, com desorganização e comportamentos impulsivos, hiperativos. Tanto a desorganização quanto a impulsividade e a hiperatividade são pontos importantes do TDAH, pois dificultam o processo de atenção – e a permanência da pessoa na tarefa.

Tipos de TDAH

Frente aos sintomas de TDAH, é possível perceber 3 subtipos desse transtorno, de acordo com a apresentação dos sintomas (vai ter listinha de sintomas neste artigo, mais para frente!). Ao avaliar o paciente e atribuir o diagnóstico de TDAH, é muito importante que o profissional especifique se o transtorno é de:

  • Apresentação predominantemente desatenta: neste caso, ganham destaque os sintomas de desatenção e de dificuldade para manejar o foco da atenção. Sintomas hiperativos até podem estar presentes, mas de forma mais suave.
  • Apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva: aqui acontece o oposto, ou seja, nem sempre existe tanta dificuldade no manejo da atenção, mas o paciente apresenta alto grau de impulsividade, agitação e comportamento hiperativo.
  • Apresentação combinada: ambos os tipos de sintoma, ligados à atenção e à hiperatividade, se apresentam em intensidades parecidas, sem que um ou outro ganhem maior destaque.

Importante: para determinar o subtipo de TDAH se considera os sintomas predominantes nos últimos 6 meses. Isso significa que, conforme a fase, conforme o crescimento, amadurecimento e envelhecimento, os sintomas de TDAH podem vir a se apresentar de maneiras diferentes no mesmo paciente.

TDAH com sintomas leves, moderados, graves ou em remissão

De acordo com o DSM-5, os sintomas de TDAH podem estar em três níveis de intensidade. Quanto mais intensos, maiores as dificuldades que o paciente enfrenta.

Além disso, como veremos mais à frente, conforme o paciente cresce e o cérebro amadurece, ou conforme a medicação e os tratamentos fazem efeito, alguns sintomas podem ficar mais e mais leves, e mesmo chegar à remissão. Lembramos que TDAH não tem cura. Por isso, da mesma forma, em fases mais atribuladas, em momentos desafiadores, ao parar o tratamento de forma não indicada ou conforme o envelhecimento, pode acontecer de alguns sintomas voltarem ou se intensificarem.

Todo mundo que se distrai tem TDAH?

Não. É normal se distrair de vez em quando, isso acontece com todas as pessoas. Distração é diferente de déficit.

A distração acontece quando o estímulo distrator nos parece muito mais interessante ou muito mais intenso que a atividade.

Por exemplo, imagine um adolescente estudando enquanto escuta música e, de repente, toca a música preferida. Ou ainda, alguém que está concentrado num filme quando escuta um barulho muito alto em outra parte da casa – e provavelmente a reação seria ir ver o que aconteceu, deixando a atividade/o filme de lado. Obviamente, existem grandes chances das pessoas destes exemplos não terem TDAH, pois são reações comuns, que não dificultam nem impedem o uso da atenção de forma geral.

Além disso, a tendência é que em certas condições, as distrações sejam mais frequentes – sem que isso implique em TDAH. Por exemplo, quando já estamos cansados da tarefa e precisamos de uma pausa, quando dormimos mal, quando outras questões absorvem nossa atenção – ex.: uma criança cuja família está com algum tipo de conflito e, envolvida nisso, passa a ter mais dificuldade para prestar atenção na escola.

Porém, se as distrações são muito frequentes ou ainda se existe dificuldade maior do que o esperado para retomar a atenção depois de alguma distração, é importante procurar um profissional para ver se está tudo bem.

Quais os sinais e sintomas de TDAH na criança?
  • Hiperativo e irrequieto, a criança geralmente é mais agitada do que se espera
  • Dificuldade para permanecer sentado por muito tempo
  • Barulhento: grita, fala alto, faz sons altos nas brincadeiras (imitando o som so carrinho, por exemplo, em tom alto, mais intenso)
  • Emoções intensas
  • Agressividade e explosões de raiva
  • “Teimosia”, rigidez ao ter de fazer as coisas de outra forma ou em outro momento
  • Baixa tolerância a frustração
  • Reage de forma impulsiva, sem pensar, a provocações, críticas ou rejeição
  • Pode ter atrasos no desenvolvimento motor ou da linguagem
  • Propenso a acidentes
  • Desajeitado com os movimentos: derruba as coisas, quebra algo por acidente…
  • Distrai-se facilmente (mais perceptível com o início da vida escolar)
  • Dificuldade de organização – quarto bagunçado, material escolar e caderno desorganizados
  • Perder ou constantemente esquecer seus pertences
  • Dificuldade para esperar sua vez – numa fila, numa brincadeira, na hora de falar ou ouvir…
  • Responder impulsivamente, antes da pessoa terminar a pergunta
  • Deixa as atividades escolares e lição de casa incompletos
  • Comete erros por falta de atenção, erra coisas que já sabia
  • Pode ter dificuldades escolares
  • Dificuldade de relacionamento com os colegas tende a aumentar conforme a infância avança
  • Curioso e criativo
  • Tendência a sintomas gastrointestinais, como dores abdominais, incontinência e alergias alimentares
  • Pode ficar hiperfocado em atividades que gosta e ter dificuldade de pará-las para iniciar outra tarefa – ex. deixar de brincar para fazer a lição de casa

Em pré-escolares, tendem a predominar os sintomas de hiperatividade – o cérebro das crianças nessa fase é mais imaturo, por isso, geralmente os sintomas de desatenção tendem a não ser percebidos, enquanto os de hiperatividade dificilmente são significativos, afinal, não é mesmo esperado que uma criança pequena mantenha a atenção e concentração por períodos longos ou que fique sentada por mais tempo. Por isso, em crianças mais novinhas, o mais indicado é observar e acompanhar, rastreando essas características, fazendo as intervenções e terapias necessárias, mas fechando o diagnóstico apenas com o início da vida escolar.

Quais os sintomas de TDAH no adolescente?
  • Agitação
  • Dificuldade para permanecer sentado por muito tempo, pode estar sempre balançando os pés, batucando na mesa, mexendo as mãos…
  • Desorganização – no ambiente, com o material escolar, nas anotações de aula…
  • Dificuldade de seguir rotinas
  • Imaginativo, sonha acordado
  • Pensamento acelerado
  • Falta de motivação – precisa de lembretes e estímulos constantes
  • Também pode ficar muito interessado e entusiasmado sobre algo e logo perder o interesse
  • Comportamentos de risco, busca por estímulos diferentes e intensos
  • Propenso a acidentes – tropeçar, quedas, esbarrar nas coisas…
  • Dificuldade de orientação espacial
  • Pode apresentar atraso escolar
  • Cuidado com abuso de álcool/drogas
  • Pode ter mais problemas disciplinares que os outros jovens, desafiando autoridades (pais, professores…) e deixando de lado as regras
  • Emoções intensas
  • Flutuações de humor: euforia, irritação, raiva…
  • Baixa tolerância a frustração
  • Reage de forma impulsiva, sem pensar, a provocações, críticas ou rejeição
  • Baixa autoestima
  • Entedia-se com facilidade e pode ter dificuldade para lidar com o tédio
  • Dificuldades de relacionamento com os colegas: atenção a casos de bullying (tanto como vítima quanto como fazer bullying com algum colega), pode assumir para si o papel do “engraçadinho” do grupo para tentar ser aceito, dificuldade para manter as amizades e relacionamentos
  • Falar demais, depressa, pode monopolizar a conversa num grupo ou dizer coisas sem se dar conta do efeito que seu comentário teve na outra pessoa, interromper o outro, responder antes de terminar de ouvir a pergunta…
  • Pode ter desempenho escolar mais baixo que sua real capacidade, seja por cometer erros por falta de atenção, perder prazos das tarefas, ter dificuldade para se organizar para estudar, para gerenciar o tempo numa avaliação…
  • Dificuldade para deixar de lado uma atividade da qual gosta para fazer outra tarefa – ex. sair do celular e ir estudar, mesmo que tenha prova amanhã
  • Entediar-se com facilidade e ter dificuldade para lidar com o tédio
  • Procrastinação, espera até o último momento para fazer uma tarefa
  • Dificuldade para fazer planos
  • Dificuldades para dormir, insônia e tendência a “trocar” o dia pela noite
  • Tendência a sintomas gastrointestinais, como dores abdominais, incontinência e alergias alimentares
  • Tende a ser um jovem dinâmico, criativo e curioso
Adulto com TDAH? Quais os sinais e sintomas?

É comum existirem adultos que só recebem o diagnóstico tardiamente, em especial quando crescem num ambiente familiar acolhedor e recebem algum apoio na escola. Muitas vezes os sintomas passam despercebidos em casos assim e o paciente passa a notar os sintomas e as dificuldades conforme a vida se torna mais complexa e conforme também perde os apoios de familiares, professores…

Importante: o TDAH tende a acompanhar o paciente ao longo da vida. Vamos ver como os sintomas se mostram na vida adulta:

  • Desorganizado, tende a perder ou esquecer objetos e documentos, por exemplo
  • Dificuldade de planejamento, com frequência inicia uma tarefa sem saber ao certo quais seriam os próximos passos ou sem saber bem quais as instruções
  • Dificuldade de concentração
  • Dificuldade de orientação espacial
  • Propenso a acidentes – tropeçar, quedas, esbarrar nas coisas…
  • Dificuldade para permanecer sentado por muito tempo, pode estar sempre balançando os pés, batucando na mesa, mexendo as mãos…
  • Pensamento acelerado
  • Dificuldade para seguir rotinas
  • Desempenho nas tarefas tende a ser mais baixo do que suas reais capacidades
  • Não termina tarefas que se propõe a fazer
  • Dificuldades para gerenciar o tempo
  • Atrasos – ou, para evita-los, pode tentar chegar muito antes do horário
  • Perder prazos – nos estudos ou trabalho, no vencimento de contas e boletos, etc.
  • Pode ter dificuldade para compreender o que leu numa primeira leitura ou para fazer cálculos de cabeça, por exemplo
  • Dificuldade para lembrar de algo que viu ou ouviu
  • Procrastinação, adia as tarefas até o último momento
  • Impulsividade, ao fazer escolhas, planejar algo ou reagir a algum estímulo, o faz de forma impulsiva, sem considerar experiências anteriores ou prever consequências, sem pensar no longo prazo
  • Comportamento de risco em busca de estímulos mais intensos, por exemplo, dirigir em alta velocidade
  • Pode ter dificuldade para permanecer em empregos, seja saindo de forma impulsiva, perdendo prazos e oportunidades, seja apresentando desempenho menor do que sua verdadeira capacidade
  • Dificuldades de relacionamento com amigos e/ou cônjuge – Pode ter dificuldade para prestar atenção na fala do outro, interromper, responder antes da outra pessoa concluir a pergunta, perder o interesse, falar sem parar e sem se dar conta do efeito daquilo que diz nas outras pessoas, por exemplo
  • Fala bem, pode seguir emendando um assunto no outro
  • Diminuição da memória de trabalho – entenda aqui sobre tipos de memória
  • Dificuldade em parar uma tarefa da qual gosta muito ou está muito envolvido
  • Mudanças de humor e intensidade emocional podem acontecer
  • Dificuldades nas finanças, seja para organizá-las, para pagar as contas no prazo ou mesmo com compras por impulso
  • Dinâmico e criativo, tende a fazer várias coisas ao mesmo tempo
  • Pode ter ótimas ideias e, ao mesmo tempo, ter muita dificuldade de colocá-las em ação, especialmente se envolvem muitos passos
  • Cuidado com a sobrecarga de tarefas: tende a se envolver em muitas atividades e projetos que parecem interessantes, sem pensar se consegue leva-los até o fim, cumprir os prazos, etc.
  • Muito sensível ao estresse, atividades e situações comuns da vida adulta podem ser fonte de estresse
  • Ao se deparar com dificuldades, situações ou tarefas complicadas, pode reagir com desespero e falta de confiança, vendo a situação como impossível antes mesmo de tentar resolver
  • Entediar-se com facilidade e ter dificuldade para lidar com o tédio
  • Baixa tolerância a frustração
  • Reage de forma impulsiva, sem pensar, a provocações, críticas ou rejeição
  • Dificuldades para dormir, insônia e tendência a “trocar” o dia pela noite
  • Tendência a sintomas gastrointestinais, como dores abdominais, incontinência e alergias alimentares
  • Impaciência para esperar, especialmente se o ritmo da outra pessoa for mais lento que o seu
Características podem se mostrar de forma diferente nas mulheres

Além das características que já apontamos, as meninas e mulheres com TDAH podem apresentar outras, ou vivencia-las de maneira diferenciada. Vale destacar que várias dessas diferenças acontecem por questões socioculturais, pela maneira como as meninas são educadas e pelo tipo de comportamento que o meio social espera das mulheres. Vamos a algumas diferenças:

  • Tendem a fazer mais esforço para se adaptar a situações que, devido ao TDAH, podem ser desafiadoras. Com isso, pode haver maior dificuldade para se notar alguns sintomas, da mesma forma que o nível de cansaço e sobrecarga das meninas e mulheres pode ser mais intenso
  • Maior risco de apresentar comorbidades, pelo fato de tenderem a interiorizar mais que os meninos/homens suas frustrações, sobrecarga e dificuldades
  • Geralmente o tipo de TDAH predominante no sexo feminino é o de desatenção
  • As mudanças hormonais ao longo do ciclo menstrual pode intensificar alguns sintomas em certos momentos, o que muitas vezes é sentido como uma TPM mais intensa
  • Falar bastante, pode emendar um assunto no outro sem concluir o primeiro, monopolizar a conversa num grupo, interromper as outras pessoas…
  • Distrair-se durante uma conversa, atividade, leitura, a menos que seja um grande foco de interesse
  • Sobrecarregada de tarefas, sente que nunca vai dar conta de tudo, cansaço constante e desmotivação
  • Começar muitos projetos e atividades, mas ter dificuldade em terminá-los ou se sobrecarregar muito – seja por todos eles parecerem interessantes no início, seja por dificuldade em gerenciar as atividades, por impulsividade e mesmo por dificuldades de negar participações e convites
  • Esquecer prazos e datas importantes
  • Desorganização – no ambiente, nos cadernos, com os próprios pertences, com as finanças…
  • Dificuldade para gerenciar o tempo, atrasos…
  • Sentir-se indecisa e, após algum tempo, tomar uma decisão por impulso
  • Problemas para manter amizades
  • Emoções são vivenciadas de forma mais intensa
  • Tendência a sintomas gastrointestinais, como dores abdominais, incontinência e alergias alimentares
  • Mascarar sintomas, suprindo as dificuldades com outras atitudes (às vezes impulsivas), ex.: não encontrar algo e, ao invés de procurar, ver se esqueceu em algum lugar, simplesmente compra outro

Pela tendência a interiorizar frustrações, tentar se adaptar e não demonstrar tanto a hiperatividade, muitas mulheres são diagnosticadas tardiamente, na vida adulta. Ou, pior ainda, recebem diagnósticos errados. Com isso, os prejuízos do TDAH na vida da paciente tendem a aumentar.

Idosos: envelhecendo com TDAH

Um dos maiores desafios atuais sobre idosos com TDAH atualmente é o fato da maioria não ter sido diagnosticada, ou ter apenas recebido o diagnóstico tardiamente.

De forma geral, as características são as mesmas dos adultos. Vamos ver algumas particularidades:

  • Idosos que nunca receberam diagnóstico podem passar a se preocupar muito com distrações e esquecimentos, geralmente chegam aos consultórios com receio de estarem desenvolvendo algum tipo de demência. Os sintomas de TDAH podem ser fonte de angústia intensa para os idosos
  • Atenção especial à fase de aposentadoria. Muitas vezes os sintomas de TDAH podem se intensificar quando o paciente “perde” aquela rotina mais estruturada, que ajudava a organizar o tempo e o dia a dia
  • Atenção à saúde dos idosos com TDAH: é importante lembrar de beber água, tomar os remédios certos no horário certo (caso façam uso), comparecer às consultas e tratamentos sempre que necessário; atenção a problemas metabólicos (TDAH + problemas metabólicos = maior vulnerabilidade para demências)
  • Podem apresentar lapsos de memória
  • A hiperatividade pode se mostrar tanto no comportamento quanto numa sensação intensa de inquietude
  • Sentimento de inadequação e de incapacidade
  • Fala impulsiva (“sem filtro”), interrompe o outro
  • Tendência a sintomas gastrointestinais, como dores abdominais, incontinência e alergias alimentares
Enquanto isso, no cérebro…

Tudo aquilo que fazemos ou vivenciamos tem um correlato cerebral. Ou seja, algo acontece no nosso cérebro enquanto fazemos o que fazemos e sentimos aquilo que sentimos. E nos transtornos mentais não é diferente. Por isso vamos ver agora como atua o cérebro no TDAH.

Explicando de forma breve, quando percebemos um estímulo em que precisamos prestar atenção, o cérebro ativa áreas do córtex pré-frontal. No TDAH, essa ativação não ocorre (ou acontece de forma diferente do esperado). Neste momento, a hipótese que melhor explica essa não ativação é ligada às alterações nos níveis de duas substâncias produzidas pelo nosso organismo: a dopamina e a noradrenalina.

Córtex pré-frontal destacado na imagem. Essa área está relacionada a grande parte das funções cognitivas.

A dopamina é um neurotransmissor relacionado à sensação de prazer, satisfação e motivação. Ela também ajuda a levar informações do cérebro para o corpo, atuando no comportamento motivado para a busca de recompensas, nos movimentos, apetite, sono, emoções e humor. Também está ligada à cognição, atuando em funções como a atenção, memória e aprendizagem.

Já a noradrenalina é um neurotransmissor ligado à redução do estresse – ela é a antagonista da adrenalina, ou seja, enquanto a adrenalina nos mantem muito alertas, pronto lara uma reação de luta ou fuga frente a um perigo ou desafio, uma descarga de noradrenalina reduz essa sensação, acalmando o organismo. Também está ligada à memória, criatividade e aprendizagem. Atua ainda no humor, sono e alimentação. É vasoconstritora, isto é, a ação da noradrenalina “aperta” os vasos sanguíneos, regulando a pressão arterial, além de atuar no sistema cardiovascular.

Quando esses dois neurotransmissores caem, um dos efeitos sentidos são as dificuldades de aprendizagem, distrações, hiperatividade, comportamentos por impulso… típicos do TDAH. Além disso, essassubstâncias atuam nas sinapses (a conexão entre os neurônios). Por isso, a queda afeta diretamente as redes neurais, dificultando, mais uma vez, os processos de atenção, memória, planejamento, controle inibitório…

Importante destacar: além do que descrevemos, a imaturidade do cérebro também pode estar por trás dos sintomas de TDAH em crianças. Por isso, é comum que conforme o paciente cresce e o cérebro amadurece, alguns sintomas fiquem menos intensos e mesmo desapareçam (lembrando que isso não se aplica a todos os casos).

TDAH e intestino

Cérebro e intestino são dois órgãos muito mais ligados do que se poderia imaginar – entenda melhor neste artigo

Como vimos no ponto anterior, o TDAH desequilibra os níveis de dopamina. Com isso, a troca de informações cérebro-corpo fica prejudicada. Além disso, quando a microbiota está equilibrada, é produzida uma enzima no intestino (CDT) que ajuda o organismo a produzir dopamina – o que tende a acontecer de forma alterada no TDAH.

Por consequência, se o intestino e a microbiota não vai bem, os sintomas de TDAH também tendem a piorar os sintomas de TDAH. Inclusive, isso pode trazer sintomas de depressão, ansiedade, insônia e confusão mental.

TDAH e sono

Estima-se que mais de 56% dos pacientes com TDAH têm algum distúrbio do sono, incluindo as crianças e adolescentes. Alguns distúrbios mais comuns em quem tem TDAH:

  • Insônia: um ponto frequente é que, mesmo estando cansados e indo cedo para a cama, o paciente demora a adormecer
  • Dificuldade para acordar: Da mesma forma, mesmo dormindo a quantidade de horas recomendada para a faixa etária, muitos pacientes se queixam de acordar cansados, do sono não ter sido reparador
  • Distúrbio do ciclo circadiano: as alterações nos níveis de melatonina (hormônio ligado ao ciclo sono-vigília, entre outros fatores) levam o organismo a sofrer com alterações no ritmo de sono
  • Em adultos e idosos, um distúrbio do sono que chama a atenção e que deve ser tratado caso se apresente é a apnéia do sono.

Distúrbios do sono são esperados nesses pacientes, tanto pelas alterações em níveis de melatonina e dopamina, quanto por fatores como aumento do estresse, sintomas de ansiedade, sintomas hiperativos… Esses distúrbios precisam ser investigados e tratados, pois infelizmente os sintomas do TDAH tendem a piorar com o sono de má qualidade. Além disso, ter um sono saudável é importantíssimo para uma boa saúde física e mental.

Aprenda mais sobre sono e higiene do sono neste artigo

TDAH, relacionamentos e sexualidade

Como vimos, o TDAH é um transtorno que se mostra nas diferentes áreas da vida. Nos relacionamentos a situação não é diferente. Infelizmente muitos pacientes com TDAH podem ter dificuldade para manter amizades e relacionamentos amorosos. Vamos ver agora alguns sinais do TDAH se mostrando nos relacionamentos e na sexualidade:

  • Dificuldade  para manter o interesse pela pessoa por muito tempo – quando a fase da paixão passa e a rotina começa, a pessoa com TDAH pode se sentir entediada e desestimulada a seguir no relacionamento (queda nos níveis de dopamina, mais uma vez)
  • Distrair-se durante conversas que não parecem interessantes, ou mesmo durante atividades que não despertam o interesse (por exemplo, quando o casal está assistindo um filme juntos)
  • Impulsividade, tanto nas atitudes como em comentários (dizer coisas sem pensar antes se iria ofender ou soar mal para a outra pessoa)
  • Dificuldade em ouvir o outro, seja por falar muito, interromper…
  • Pode se mostrar muito impulsivo, reativo ou irritadiço quando se frustram ou durante uma discussão
  • Tendem a exigir mais maleabilidade do parceiro(a), por exemplo, ao se esquecer de combinados, datas especiais, compromissos, etc.
  • Desafios de comunicação entre o casal podem ser comuns
  • Pode haver dificuldades para se manter focado durante a relação sexual
  • Instabilidade emocional e de humor
  • Quando cansado e frustrado, pode ter dificuldade para deixar o hiperfoco de lado e dar atenção ao parceiro(a)
  • Libido variável, pode alternar momentos de muito desejo e de total indiferença
  • Atenção a comportamentos de risco, como sexo sem proteção, corresponder aos interesses de alguém sem ter interesse…
Sobre hiperfoco no TDAH: “Por que meu filho com TDAH não presta atenção na aula mas fica super concentrado quando joga vídeo game?”

Como destacamos no início deste artigo, o TDAH não significa apenas distrações ou dificuldade de focar e de se concentrar. É isso, mas há também outras características do transtorno tão importantes quanto esta. Por isso, podemos considerar que no TDAH ocorre a dificuldade para gerenciar o foco da atenção e alterna-la de um estímulo para outro (deixar o video-game e ir fazer a lição de casa, por exemplo). Ou seja, é difícil prestar atenção em algo mas, também pode ser igualmente complicado deixar de lado algum estímulo, criando um hiperfoco.

O hiperfoco pode ser definido como um interesse muito intenso em algo. Quando alguém se dedica ao seu hiperfoco, pode acontecer de ficar tão envolvido na atividade que deixa de perceber estímulos do ambiente (como sons, alguém chamando, a passagem do tempo…) e mesmo estímulos internos (por exemplo, não percebe a sensação de fome ou sede, frio, desconforto…). O hiperfoco pode ser sobre qualquer tipo de assunto ou atividade.

O hiperfoco não é uma característica apenas do TDAH, ele também está presente em outros transtornos, como no autismo – confira aqui nosso especial Tudo Sobre: Transtorno do Espectro Autista

No entanto, o hiperfoco do TDAH pode ser bem diferente do hiperfoco no autismo. No autismo, o hiperfoco acontece por padrões de interesse restrito, pensamento rígido, apego à rotina – o hiperfoco traz aquela sensação confortável de estar frente a algo conhecido e previsível.

no TDAH, o hiperfoco tende a acontecer pela dificuldade em alternar o foco da atenção. Tende a ser muito mais fácil para quem tem TDAH se concentrar numa atividade ou assunto que desperta o interesse do que em outra que lhe parece desinteressante ou entediante.

Para fechar este ponto, cabe dizer que ter um hiperfoco não é algo totalmente ruim ou bom, é apenas uma característica entre tantas. Ele pode trazer dificuldades (como perda de prazos, deixar de lado outras tarefas que precisava fazer, prejuízos nos relacionamentos…) como também aspectos favoráveis, por exemplo, aprender muito sobre o assunto, reduzir o estresse e pode até vir a se tornar uma opção de carreira na vida adulta.

O paciente com TDAH pode ter comorbidades? Quais as mais comuns?

Sim. É comum que pacientes com TDAH apresentem outras condições de saúde física e mental. Em cerca de 70% dos casos, o TDAH não vem sozinho. Algumas das comorbidades mais frequentes:

  • Compulsão alimentar
  • Abuso de álcool e substâncias
  • Distúrbios do sono
  • Depressão
  • Ansiedade
  • Transtornos específicos de aprendizagem (ex.: dislexia, discalculia…)
  • Transtorno de Oposição Desafiante (TOD)
  • Transtorno de conduta
  • Síndrome de Tourette (“tiques”)
  • Síndrome de burnout
  • Transtornos de personalidade (em adolescentes e adultos)
  • Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
  • Transtorno do Espectro Autista
  • Asma
  • Doença celíaca
  • Enxaqueca
  • Epilepsia
  • Hipertensão
  • Doenças cardiovasculares
  • Epilepsia
  • Enxaqueca
  • Alterações na glândula tireóide
  • Obesidade – adultos com TDAH têm cerca de 5 vezes mais chances de apresentar IMC>30
  • Demência de corpos de Lewy – um quadro demencial marcado pela presença corpos de Lewy no interior de células nervosas, causando declínio cognitivo, alucinações visuais e sinais de Parkinson, mais comum após os 75 anos
  • Ao longo do envelhecimento, pacientes com TDAH que também apresentam algum distúrbio metabólico podem ter maiores chances de desenvolver demências

Identificar e tratar as comorbidades é um ponto muito importante, melhorando a qualidade de vida e evitando que uma condição agrave a outra.

Diagnóstico diferencial: quais doenças ou transtornos podem ser confundidos com TDAH?

Diagnóstico diferencial é o processo que os profissionais da saúde usam para chegar ao diagnóstico, examinando, avaliando e investigando o quadro clínico do paciente para ter certeza de que se trata de certa doença e não de outra condição parecida que pode ser confundida. Lembrando que alguns destes diagnósticos podem ser comorbidades do TDAH, mas isso também precisa ser avaliado com cuidado. Por exemplo, um paciente que tenha TDAH e Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) não receberia o tratamento adequado se obtivesse apenas um destes diagnósticos. Da mesma forma, é preciso atenção para não subdiagnosticar o TDAH ou incorrer em erros diagnósticos. Alguns dos transtornos e condições que merecem atenção ao avaliar a possibilidade de um diagnóstico de TDAH:

  • Transtorno de Oposição Desafiante (TOD)
  • Transtorno explosivo intermitente
  • Tourette
  • Autismo
  • Transtornos específicos de aprendizagem, como a dislexia
  • Deficiência intelectual
  • Transtornos de ansiedade
  • Depressão
  • Transtorno Bipolar
  • Abuso de substância (a hiperatividade e/ou desatenção no TDAH não pode ser causada por abuso de drogas ou álcool)
  • Transtornos psicóticos (não se diagnostica TDAH em pacientes enfrentando uma crise psicótica)
  • Efeitos de medicação (não se diagnostica TDAH caso os sintomas estejam associados a efeitos colaterais de algum medicamento em uso pelo paciente – nestes casos, o mais indicado é relatar os sintomas ao profissional que receitou a medicação, para mudança, ajuste na dose ou a conduta mais adequada para o caso)
  • Transtornos de personalidade (ao se realizar o diagnóstico de adolescentes e adultos), em especial Personalidade Borderline, Personalidade Narcisista ou Personalidade Antissocial
  • Ao diagnosticar idosos, é recomendado realizar uma avaliação detalhada e cuidadosa para diferenciar TDAH e demências

Como o leitor mais atento pode perceber, um bom diagnóstico diferencial é fundamental para chegar ao diagnóstico correto e ajudar o paciente a receber o tratamento mais adequado. Em certos casos, esse processo pode envolver diferentes profissionais e especialistas.

Quem é mais propenso a desenvolver TDAH?

De acordo com o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição),

  • Genética
  • Parto prematuro, com peso baixo ao nascer (menor de 1,5kg)
  • Ambiente durante a gestação: mães fumantes, abuso de álcool, infecções (ex. encefalite), exposição a neurotoxinas como o chumbo…

O DSM-5 destaca ainda que o ambiente familiar em que a criança convive no início da infância não está por trás do TDAH, porém pode influenciar a evolução dos sintomas e mesmo aumentar as chances de comorbidades (como ansiedade, depressão, envolvimento com álcool e drogas, comportamentos de risco…)

Como ajudar alguém querido que sofre de TDAH?

Esta foi a pergunta campeã na caixinha de sugestões do Instagram e isso me deixou bem feliz! Separei algumas orientações para diferentes contextos, sem esquecer de um trecho para a própria pessoa. Além destes pontos, sugerimos ler este outro artigo com dicas práticas de como apoiar alguém que está enfrentando um transtorno mental.

Orientações para familiares de alguém com TDAH
  • Aprenda sobre TDAH e as comorbidades do seu familiar, isso vai facilitar muito a relação de vocês, tanto para lidar com alguns sintomas quanto para separar o que é característica da pessoa e o que é do TDAH
  • Colocar-se no lugar da pessoa: acredite, a pessoa não faz certas coisas “de propósito”, e muitas vezes as distrações e esquecimentos são frustrantes, desconfortáveis e até constrangedoras para ela também
  • Crie um ambiente de amor e acolhimento, permita que a pessoa se expresse e que vá no ritmo dela e, principalmente, mostre com atitudes e palavras que a pessoa não está sozinha
  • Se possível, separem um cantinho de expressão: um lugar que pode se mexer à vontade, que pode sujar e pintar com tinta, que pode dançar ou fazer o que quiser. Mesmo que seja um cantinho no quarto da criança (que você pode colocar uma lona ou plástico grosso na hora de brincadeiras com tinta, barro…), essa possibilidade de expressão livre ajuda demais a direcionar a criatividade para algo produtivo, a desacelerar os pensamentos e até a melhorar a autoestima e autoconfiança
  • Quando der uma instrução, fale com calma e uma coisa por vez, simplifique as tarefas. Por exemplo, ao invés de “arrume o seu quarto”, pode ser mais eficaz pedir um passo por vez: guardar os brinquedos, quando ele terminar, pedir para arrumar o material escolar na mochila, depois disso, pedir para guardar as roupas…
  • Principalmente para os pais ou responsáveis de crianças e adolescentes com TDAH: lembre-se que o adulto da situação é você. Por isso, agir e reagir com responsabilidade, maturidade, empatia e amor faz toda a diferença – ensine com as suas atitudes.
  • Incentive a seguir o tratamento certinho
  • Repare se a criança respira pelo nariz. A respiração pela boca ativa áreas cerebrais diferentes da respiração pelo nariz – pelo nariz, a atenção e os processos de cognição tendem a ser ativados. Se sua criança/adolescente respira pela boca, procure um otorrino e uma fono.
  • Motive e incentive sempre: a seguir com os estudos, a fazer e manter boas amizades, a ter projetos e a colocá-los em ação
  • Criem uma rotina que seja prática e funcional para o contexto de vocês
  • Não rotule, evite termos pejorativos. Ao invés disso, que tal destacar e incentivar aquilo que ele(a) tem de melhor?
Orientações para escolas, professores e educadores de alunos com TDAH
  • Aprenda sobre o TDAH e seus efeitos na aprendizagem… mas também sobre os efeitos em outros contextos da vida
  • Todos os dias, coloque na lousa ou num quadro qual vai ser a rotina, as atividades do dia, riscando o que terminarem. Isso ajudará seu aluno a perceber o todo, perceber em qual parte ele está, quais os próximos passos, e até mesmo a aprender a gerenciar o tempo
  • Professores do Fundamental 2 ou Ensino Médio podem optar por escrever num canto da lousa a atividade ou conteúdo do dia
  • Permita que ele se sente num lugar com poucas distrações, longe da janela e da porta, e mais para frente
  • Permitir que o aluno se levante quando se sentir agitado e precisar se movimentar pode fazer toda a diferença – qual o problema de ver a aula em pé, se isso for ajudá-lo a se concentrar melhor?
  • Garanta que ele entendeu as instruções da atividade e dê lembretes sempre que necessário
  • Punir é uma péssima escolha: evite atitudes como deixar sem recreio ou sem algo que ele gosta por não ter feito a tarefa ou terminado a atividade – tirar esses momentos agradáveis vai desequilibrar ainda mais a dopamina, piorando os sintomas e reforçando a falta de confiança, de autoestima…
  • Incentive sempre, estimule, motive… ele pode MUITO!
  • Atitudes contra o bullying e de respeito às diferenças – afinal, todos temos pontos fortes e dificuldades
  • Relacione as atividades e o conteúdo a algo que o aluno gosta, torne a experiência lúdica, pode incluir jogos, pequenas encenações, etc.
  • As regras precisam ser objetivas e simples, por exemplo, “quando chegar, colocar o caderno de lição de casa na minha mesa e ir para o seu lugar”
  • Pedir uma coisa por vez, simplificando a rotina
  • Adapte as atividades, incluindo imagens e esquemas visuais dos pontos mais importantes
  • Permitir tempo maior para as atividades
  • Muitas vezes, menos é mais: é melhor um pouco menos de tarefa, que o aluno consiga cumprir, do que uma grande carga de uma vez. Por exemplo, ao invés de entregar tudo na sexta-feira, pode ajudar se pedir para ele metade para quarta e o restante para sexta
  • Ensine-o a se organizar para estudar, a perceber pontos importantes, fazer resumos ou mapas mentais…
  • Ensine-o a usar uma agenda escolar e/ou lista de tarefas
  • Lembre sempre de atividades e eventos importantes ao longo do período letivo, por exemplo: “o trabalho é para o dia x”, “lembrem-se que semana que vem, dia x, é o dia de entregar o trabalho”, “na próxima aula é o dia de entregar o trabalho”…

Professor(a), lembre-se que seu papel é importantíssimo na vida do seu aluno(a). Você geralmente é o primeiro adulto que não é da família com quem a criança convive com mais proximidade, é a primeira figura de autoridade fora os pais/cuidadores. E isso vai muito além do conteúdo: ele vai levar você e a relação que construírem como referência. Por isso, seja inspiração. Você pode fazer a diferença nessa história de vida do jeito mais lindo possível!

“Na minha sala tem um menino com TDAH, como a gente pode ajudar ele?” – Orientações para colegas e amigos

Essa pergunta é de uma menina de 15 anos e chegou para a gente na caixinha de sugestões do Instagram. Ficamos super felizes por ver essa geração mais jovem tão empática, sensível e ligada na saúde mental, por isso preparamos algumas dicas com muito carinho. Vamos lá:

  • Não façam bullying nem fiquem rindo das dificuldades do colega, mesmo que só por “brincadeira”. Geralmente as pessoas com TDAH se sentem super mal pelos sintomas, a autoestima pode ser baixa e essas brincadeiras realmente não ajudam em nada
  • Incluam o colega! Não por ter um transtorno, mas por ser quem ele é. Conheçam ele melhor, com certeza ele tem várias características legais, afinal, ninguém se resume a um transtorno!
  • Mas, ao mesmo tempo, evitem comentários sem necessidade na aula, em especial perto do colega. Assim, ajudam ele (e vocês também!) a se manter focado no conteúdo
  • Pode ser que ele se esqueça de algo importante para vocês, como combinados ou datas de aniversários… não é de propósito – e provavelmente ele também ficou chateado por ter se esquecido. Isso não significa que ele não se importa ou que ele não gosta de vocês
  • Sejam empáticos, ou seja, se coloquem no lugar do colega
  • E lembrem-se que cada pessoa é única. Por isso, nada de supor! Pergunte sempre se ele precisa de ajuda e em que, ao invés de supor que precisa ou que não precisa.
Orientações para quem tem TDAH. Como deixar a rotina mais funcional?
  • Crie um dia a dia que seja prático, que acomode suas necessidades e atividades
  • Cuidado com o estresse, a ansiedade e o excesso de estímulos, eles podem piorar o TDAH
  • Identifique os horários em que você costuma ter mais concentração e deixe as atividades mais importantes para este período
  • Inicie seu trabalho ou estudo pelas tarefas mais urgentes
  • Aprenda a dizer “não” e a respeitar seus limites
  • Se você respira pela boca, procure um otorrino e uma fono. A respiração pelo nariz ativa áreas cerebrais diferentes, favorecendo os processos de atenção e aprendizagem
  • Quando for estudar ou trabalhar, sente-se à mesa, com a coluna certinha. Assim o cérebro recebe mais oxigênio e a concentração melhora
  • Seguir uma rotina mais rígida pode ser difícil. Tem coisas que precisam de um horário (como a aula ou trabalho, uma consulta…), mas outras não precisam! Afinal, tanto faz estudar às 3h ou às 5h se os dois horários estão livres, né? Por isso, tente pensar em sequências de atividades – ao invés de “estudar às 3h”, prefira “estudar quando terminar xxx”
  • Aprender técnicas de estudo, tipo a técnica pomodoro, pode fazer grande diferença
  • Inclua pausas nas suas atividades. Nessas pausas, aproveite para se movimentar ou fazer algo que gosta
  • Tenha um mural de coisas muito importantes – pode ser o espelho, a porta da geladeira, um cantinho no quarto… Lá, coloque os lembretes mais importantes, como data de algo que precisa entregar, um aniversário que está perto, algo que acabou e você precisa comprar… Toda semana, tire aquilo que já foi e acrescente o que precisar
  • Sobre organização: tenha uma agenda ou calendário e escreva lá apenas aquilo que envolve datas e horários. O que não precisa de data certa pode ficar numa lista de tarefas, que você vai riscando conforme cumpre
  • Outra forma de se organizar é o método bullet journal, inclusive o criador do método também tem TDAH e criou essa alternativa por ter dificuldade para usar agendas tradicionais
  • Se você usa medicamentos, coloque o alarme no celular com o nome e dose
  • Para os adultos: ao invés de fazer a lista de compras de uma vez (e se esquecer de algo), tente deixar a lista num local visível sempre. E, conforme algo terminar ou você se lembrar de algo que precisa, acrescente lá
  • Mais uma para os adultos: deixe todas as contas possíveis no débito automático e agende o pagamento dos boletos assim que eles chegarem
  • Prepare suas coisas do dia seguinte à noite. Deixe o material escolar ou a bolsa do trabalho prontos, separe a roupa toda que vai usar, deixe o lanche ou almoço que vai levar separado na geladeira…
  • Prefira estudar ou trabalhar num cantinho com poucos distratores: sem ser de frente para a janela, sem TV ou pessoas passando/falando, deixando na mesa só o que vai usar agora
  • Tenha atividades para se expressar, desacelerar os pensamentos, esvaziar a cabeça. Por exemplo, artes, desenho, música, até escrever ou gravar um diário
  • Estilo de vida saudável: alimentação equilibrada, sono, atividade física…
  • Se for o caso, cuide para aprender a ouvir até o final, esperar a vez de falar e tentar entender o lado do outro
  • Você tem um hiperfoco? Legal, não reprima! Separe no dia a dia momentos em que você pode se dedicar a ele livremente, principalmente em fases mais atribuladas – se você fica muito entretido, coloque alarmes no celular para lembrar de fazer pausas ou de mudar de atividade
  • Abafadores de ruídos podem fazer grande diferença na hora de estudar ou de algum trabalho mais focado – neste artigo tem algumas dicas para escolher o seu

Procure ajuda profissional e siga sempre seus tratamentos do jeitinho que os profissionais que te acompanham indicarem.

Se você se identificou com as características do TDAH mas nunca recebeu este diagnóstico, é importante investigar, mesmo que você já tenha terminado os estudos, seja adulto, bem sucedido… Com o diagnóstico em mãos, é possível entender características e comportamentos, criar um dia a dia com mais leveza, tratar o que for necessário (neste momento e/ou dificuldades que podem surgir quando mais velho), lidar com essas características de um jeito mais leve e funcional.

Como é o tratamento?

O tratamento pode envolver diferentes profissionais e estratégias clínicas, conforme as necessidades de cada paciente, por exemplo:

  • Medicação, sempre com acompanhamento médico
  • Psicoterapia
  • Reabilitação neuropsicológica (de funções como a atenção, a memória, o planejamento, controle inibitório…)
  • Terapia ocupacional
  • Fonoaudiologia
  • Psicopedagogia
Entre colegas: orientações para profissionais da saúde

Alguns pontos importantes a observar em pacientes com TDAH:

  • Diagnostico cuidadoso: o TDAH acompanha o paciente ao longo da vida, por isso é fundamental sempre checar a história de cada sintoma, além de fazer um bom diagnóstico diferencial, sondando comorbidades e descartando outras possibilidades
  • Diagnóstico tardio: hoje em dia, com instrumentos de avaliação mais refinados e maior acesso à informação, é comum que adultos e até mesmo idosos nos procurem com suspeita de TDAH (seja após o diagnóstico de filhos ou netos, seja por ter se identificado ao receber informações sobre o assunto). É importante caprichar na anamnese e investigar em detalhes a fase escolar – como era na escola, quais dificuldades tinha, costumava fazer as tarefas, a professora pedia atenção com frequência, costumava perder seus pertences…?
  • Em idosos: ainda mais atenção. Muitos sintomas podem ser confundidos com demência, por isso é fundamental checar a presença desses sintomas antes dos 12 anos e perguntar aos familiares se, quando mais jovens, apresentavam sinais típicos
  • Acolha o paciente e a família. Receber diagnósticos nunca é algo fácil, mesmo quando existe uma suspeita. Em especial quando falamos sobre transtornos sem “cura”. Muitos medos sondam a família: ele vai acompanhar a escola? Vai conseguir entrar no mercado de trabalho? Manter relacionamentos saudáveis? É importante validar esses medos, porém informar que, com os apoios e tratamentos adequados, muita coisa é possível – diagnóstico não é fim, é recomeço.
  • Ofereça informações sobre TDAH de forma acessível: sem jargões e termos técnicos, permita que o paciente e familiares se expressem, tirem suas dúvidas e perguntem livremente
  • Orientar sobre higiene do sono e um estilo de vida saudável faz toda a diferença

Colegas, temos um grande poder nas mãos: o de mudar vidas, reduzir sofrimento e quebrar preconceitos. Vamos usá-lo bem, com ética, com amor ao próximo. Cuide bem do seu paciente, da forma como você gostaria que um colega cuidasse de um filho seu, dos seus pais, de alguém querido para você.


Quer citar este texto no seu trabalho? Legal! Pode citar assim:

CARUNCHIO, Beatriz Ferrara. Tudo Sobre: TDAH; Inspirati Soluções em Saúde Mental, 2022. Disponível em: <https://inspiratisaudemental.com/2022/09/28/tudo-sobre-tdah/> Acesso em 23 de outubro de 2022.

Deixe uma respostaCancelar resposta

Descubra mais sobre

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading

%%footer%%